As doutrinas essenciais da fé cristã
INTRODUÇÃO:
Abordaremos
aqui as doutrinas que são essenciais a fé cristã sob a perspectiva do autor,
veremos a importância de ter a Bíblia como sustentáculo das doutrinas bases da
fé, como os concílios influenciaram no estabelecimento das doutrinas
fundamentais e a importância dos fundamentos soteriológicos, epistemológicos e
hermenêuticos na construção das doutrinas essenciais.
1 - Duas maneiras de abordar a
questão das doutrinas essenciais
Segundo
o autor tem havido várias tentativas para definir os fundamentos da fé. Na
década de 1920, surgiu com os fundamentalistas uma lista semelhante as
anteriores abordando duas maneiras possíveis de se conhecer as doutrinas
essenciais, por meio das doutrinas
fundamentais da fé e aquelas que são doutrinas
soteriológicas, fundamentais para a salvação.
2 - Uma lista teológica de
doutrinas essenciais
O
autor refere-se ao Novo Testamento como a base teológica para abordar e
responder sobre as doutrinas básicas para a salvação da humanidade, descritas
na epístola de Paulo aos Romanos do capitulo 1 a 8, como sendo justificação (3b-5), santificação (6-7) e
glorificação (8).
1 – Justificação: A Salvação
da Pena do Pecado – O autor menciona que são onze as doutrinas
necessárias para tornar possível a justificação: 1) a depravação
humana; 2) O nascimento virginal de Jesus, 3) a impecabilidade de Jesus, 4) a
divindade de Jesus, 5) a humanidade de Jesus, 6) a unidade de Deus, 7) a
Triunidade de Deus, 8) a necessidade da graça de Deus, 9) a necessidade da fé;
10) a morte expiatória de Jesus e 11) a ressurreição de Jesus. Sem o
conhecimento seria impossível o ser humano alcançar a uma posição legal diante
de Deus, (Rm.1-3a).
2 – Santificação: A Salvação
do Atual Poder do Pecado – Duas novas doutrinas serão
agrupadas as outras anteriores como sendo necessária a esta segunda fase da
salvação: a santificação: 12) a ascensão de Jesus e 13) a vigente
intercessão sumo-sacerdotal de Jesus. Enquanto a justificação é instantânea, a
santificação é um processo diário que envolve o seu relacionamento com Deus por
intermédio do Espirito Santo e do próprio Jesus (Jo. 16.7) que por meio da sua
ascensão intercede pelos santos (Hb 9.11,12).
3 – Glorificação: A Salvação
da Futura Presença do Pecado – A segunda vinda de Jesus
corresponde a doutrina 14, que vai ser necessária para a conclusão de nossa
salvação: a glorificação. A parousia marca a derrota final da morte, do
pecado e do sofrimento. Os credos e as confissões da fé cristã já há muito
tempo deixaram bem claro que nas Escrituras está devidamente definido o destino
dos santos e dos ímpios, enquanto estes estão toda a eternidade com Cristo
(Mt.25), os outros estarão eternamente sob o domínio das trevas. Atanásio em
seu Credo por exemplo diz que: “E quando [Jesus] vier, todos os homens
ressuscitarão com o seu corpo, para prestar conta dos seus atos. E os que
tiverem praticado o bem irão para a vida eterna, e os maus para o fogo eterno”.
4 - O que torna uma doutrina
essencial? Toda a doutrina para ser essencial deve ter
toda a sua base na Bíblia e deve ser de natureza soteriológica ou salvífica e
sua essência tem que estar ligada a salvação (Rm 1.16).
3 - Uma abordagem histórica às
doutrinas essenciais
As
quatorze doutrinas essenciais da salvação segundo o autor constam nas primeiras
confissões e credos da igreja cristã, contudo podemos afirmar que existe uma
confirmação histórica do processo teológico. Nos Credos dos Apóstolos e Niceia
(325 d.C.), encontram-se as quatorze doutrinas essências para nossa salvação.
No Credo de Atanásio (c. 428 d.C.) além de fazer referência a todas as quatorze
doutrinas essenciais, enfatiza a trindade e a encarnação de Cristo e foi
dirigido contra as muitas heresias como: o triteísmo[1],
que afirmava ser três deuses, mas um só Deus; contra o monofisismo, afirma que “não confusão” ou mistura das duas
naturezas; contra o nestorianismo[2],
declara que há uma “unidade” das duas naturezas em uma Pessoa; contrariando o
arianismo, o Filho é de “substância [...] igual entre si” com o Pai e não foi
“feito”, mas é “incriado” e “ eterno”, dentre outras doutrinas. O Credo de
Calcedônia (451 d.C.) além de incluir outras doutrinas essenciais, destaca a
trindade, o nascimento virginal de Cristo, sua humanidade e divindade e a
unidade hipostática de suas duas naturezas em uma pessoa, sem separação, nem
confusão. Enfatiza também a perfeição e completude das duas naturezas,
juntamente com a eternidade do Filho, antes de todos os séculos.
4 - Critério discernentes para
a ortodoxia
O autor faz a menção de que,
ainda que muitos dos segmentos do cristianismo aceitem estes três primeiros
credos e quatro concílios como definição definitiva de ortodoxia, nem todos os
tem como mesmo valor. Por exemplo os católicos romanos aceitam vinte e um
concílios da igreja como fidedignos. Os Ortodoxos da Igreja Oriental aceitam os
primeiros sete somente. Os não católicos aceitam apenas quatro e faz menção de
numerosas doutrinas pronunciadas por concílios mais recentes que são objeção às
Escrituras. Entre tantas podemos destacar a adoração aos ícones, veneração a
Maria, a oração pelos mortos[3]... A
visão reformada (de Lutero e Calvino) aceita geralmente os quatros primeiros
concílios da igreja, a partir do quinto, as doutrinas supras citada começa a
emergir. Embora o Credo dos Apóstolos fosse reconhecido e respeitado pelos
primeiros anabatistas, acentuava eles que só a Bíblia é infalível e tem
autoridade divina.
1
- A diferença entre explícito e implícito - As
doutrinas essenciais nos credos nem sempre estão explicitamente declaradas; a
doutrina das Escrituras é um exemplo mesmo estando implícita é a base única e
infalível para a crença cristã. a doutrina da depravação humana não é
explicitamente tratada nestes antigos credos mas é implícita nas declarações
sobre a morte de Jesus e na necessidade da remissão e perdão pelos nossos
pecados.
2
- A diferença entre as doutrinas necessárias para a salvação e as necessárias
para sermos salvos - Nem todos os fundamentos da soteriologia são
necessários explicitamente para crermos para a salvação. O nascimento virginal
de Jesus não faz parte dos escritos para salvação, portanto se Jesus tivesse
sido concebido como um homem normal não teria como livrar o homem do pecado;
chega-se à conclusão do que é verdadeiro e do que deve ser crido para a
salvação.
3
- A diferença entre negar e não crer numa doutrina - Segundo
o autor existem algumas doutrinas essenciais que a pessoa mesmo que não creia,
ainda assim pode ser salvo, como o nascimento virginal, na inspiração das
Escrituras, na ascensão de Jesus e mesmo assim ser salvo. É possível alguém
crer no Senhor Jesus Cristo (At 16.31), mesmo sem nunca ter ouvido falar da
divindade de Jesus e ser salvo, entretanto quando a pessoa ouve falar da
divindade de Jesus e não a aceita, a Bíblia não dá base para acreditar que esta
pessoa será salva.
4
- A diferença entre heresia e salvação - É
possível alguém ser herege em algumas doutrinas e mesmo assim ser salvo. Fica
um tanto incoerente e antibíblico a pessoa ser contra as doutrinas, segundo o
autor é melhor alguém incoerente salvo do que o coerente não salvo.
5
- A diferença em ser herege em uma ou
em todas as doutrinas - Ainda
que alguém negue a inerrância da Bíblia, ainda assim pode ser salvo. Por mais
que a inerrância faça parte da epistemologia, não é fundamental para a
salvação, neste caso precisam-se ser ortodoxos nas doutrinas salvíficas supras
citada para a salvação.
Três diferentes tipos de
doutrinas essenciais
Fundamento Soteriológico - Estes
fundamentos estão ligados diretamente as doutrinas da salvação; podem ser
divididos em necessários para a justificação, para santificação e para a
glorificação.
Fundamento
Epistemológico - É notável na lista das doutrinas essenciais a
falta da (15) da inspiração das Escrituras. Esta doutrina embora seja
essencial, não é fundamental por não ser soteriológica, mas epistemológica.
5
- Fundamento Hermenêutico – É incluído nesta lista de
doutrinas fundamentais a (16) interpretação literal e histórico-gramatical da
Escritura. Sem esta doutrina não há ortodoxia. A maioria das seitas
especializam em negar este método literal, no todo ou em parte. Toda a doutrina
protestante tem de sola Scriptura (só a Bíblia).
6 - CONCLUSÃO:
Embora
o autor tenha inserido aqui de modo brilhante as doutrinas essenciais à fé
cristã. Poderíamos ainda acrescentar a doutrina da ação e ministério do
Espirito Santo na igreja, a doutrina do batismo e a ceia do Senhor. Vemos aqui
como foi importante os concílios e o credos no estabelecimento das doutrinas
fundamentais da fé crista. Aquele que deseja ser um apologista da fé cristã,
precisa ser de modo relevante um bom conhecedor da Bíblia.
Geisler, Norman L. - Meister, Chad V. - Razões pra Crer
( resenha do capitulo seis)
[1] Crença nos três Deuses
da Trindade, com que se acusavam os cristãos de admitirem, em Deus, a
existência de três pessoas, de três substâncias. (Dicionário Houaiss eletrônico
3.0)
[2] Doutrina ligada a
Nestório (380-451), monge de Antioquia, que fazia a distinção entre as
naturezas divina e humana de Cristo, o que consequentemente negava a
maternidade divina de Maria. (Dicionário Houaiss eletrônico 3.0)