segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Diaconia e o Serviço Cristão!

Resumo do capitulo primeiro do Livro Diaconia – "O significado da raiz diakon- e seus derivados no Novo Testamento

Introdução: Neste primeiro capítulo vemos a importância do trabalho que foi desenvolvido ao longo da história no que está relacionado ao ministério diaconal na Bíblia, porém nas Cartas do apóstolo Paulo (autênticas e deuteropaulinas) e nos Evangelhos é que este termo diakonos dá uma conotação mais abrangente quanto a vida de algumas pessoas que exerceram com dedicação este chamado. Vamos então a este importante tema.

1 – O significado da raiz diakon- e seus derivados no Novo Testamento

No Novo Testamento a raiz diakon- e seus derivados aparecem, independentemente de determinadas decisões de crítica textual, umas cem vezes, sendo que em distribuição mais ou menos imparcial como substantivos diakonos, diakonia e o verbo diakonein. Nos estudos a seguir termos uma visão mais precisa possível sobre este termo usado na tradição bíblica. Abordaremos a priori as passagens em que aparece o termo diakonos no Novo Testamento. Como ponto de partida enfocaremos o significado do verbo diakonein à base do texto do Evangelho de Mateus 25.31-46. No atual debate teológico sobre a raiz diakon- e seus derivados percebe-se uma clara mudança de enfoque. Na maioria das Bíblias que tem as traduções em alemão prevalece ainda a compreensão de diakonia como “Dienst/serviço” ou “Amt/ministério”, pesquisas mais recentes salientam um outro sentido do termo, que faz referência mais ao aspecto da mediação entre grupos ou setores diversos. Neste sentido a diaconia move-se de uma atividade mais criativa para um trabalho voltado mais para a comunicação, construção de redes e mobilidade.

·         Diaconia como mediação – O termo de diakonos é entendido como nomeação, para uma tarefa mais de serviço nas comunidades cristãs primitivas, que consistia especialmente na ajuda a pessoas necessitadas; esta compreensão unilateral é passiva de discussão. Como contribuição este termo será apreciado detalhadamente o seu uso e o seu significado no Novo Testamento. No Novo Testamento o termo diakonos aparece 27 vezes; mais adiante será mais aprofundado, com ajuda dos textos escritos pelos Pais da Igreja, de modo especifico as Cartas e Inácio, a tese elaborada no conjunto central à base das passagens do Novo Testamento. Com estes três passos buscamos demonstrar uma compreensão de diakonos, que não se limita apenas na assistência social, porém, com uma amplitude maior orienta-se nas relações externas das comunidades cristãs, que exigem comunicação e mobilidade correspondente.

·         Possíveis derivações e significados no grego do termo diakonos – Em relação ás origens e aos significados de diakonos, há diversas sugestões; segundo a própria origem etimológica do termo não é clara. A uma corrente que atribui aos Pais da Igreja a etimologia da palavra diakonos de dia-konis – “através do pó”. Contudo esta dedução ainda não convence, porque o “a” em dia-konis é breve enquanto em diakonos é longo. Outros, apontam para a conexão com diaktoros, mensageiro, de modo especial referindo-se a Hermes. Entretanto, outros opinam que o termo originou da combinação de enkeo - “ser apressado” – coma antecipação da partícula dia; esta explicação é tida e aceita como a mais correta, considerando ainda digno de nota o fato de que aqui o aspecto do movimento tem grande importância. Contanto seja como for quanto à relação etimológica de diakonos aparece ser ainda é incerto. Há ainda outros enfoques para explicar a origem do conjunto de termos com base em diak- ou seja diakonos, diakonia e diakonein, a partir de determinadas expressões. Sendo assim Klaus Berger considera a ajuda aos pobres no judaísmo um importante precursor da pratica diaconal. Ele aponta uma conexão existente entre o “Testamento de Jó” e Atos capitulo 6. No “Testamento Jó”, que surgiu entre o ano 100 a.C. e 100 d.C., são descritas em combinação com o que consta na Bíblia em Jó 31.16, diversas e importantes obra de Jó. Voltando a esta relação com a tradição judaica Klaus estabelece uma linha com os termos hebraicos Chäsäd (eleemosyne) e tsedaqa (dikaiosyne), bem como as gemilut chassidim da tradição rabínica. De modo semelhante, Hermann Wolfang Beyer em seu artigo no Theologisches Wörterbuchz zum Neuen Testament, aponta para a relação da diaconia cristã, em especial o termo diakonos, com a ordem de vida comunitária judaica. Segundo o autor, no entanto, diante dessa suposta relação com a tradição judaica surpreende o fato de que o termo diakonos apareça muito pouco na Septuaginta, aparecendo no livro de Ester para designar os servos do rei Assuero (1.10; e apenas em alguns manuscritos em 2.2; 6.1-5). Fora do livro de Ester vai aparecer num escrito bem posterior 4Mac 9.17, para caracterizar o s carregadores de armas (hoi hipaspistai), que ao torturarem alguém, são chamados por ele de “miseráveis diakonoi”. Sendo assim diante dessa rara ocorrência do termo, é pouco provável que, apesar de toda a relação do cristianismo primitivo com o judaísmo, o termo diakonos, possa ser derivado diretamente da tradição judaica. Então, parece ser mais coerente partir do significado correto do termo na tradição grega da Antiguidade e, portanto, encontrar a compreensão mais aprofundada do termo no cristianismo primitivo. A tradução de diakonos nas Bíblias alemãs, no entanto, ainda está fortemente marcada pelo artigo de Hermann acima mencionado, de 1935. Ele define o termo a partir da ideia do servir. Na sua opinião o significado básico, é o servir à mesa. Beyer vai diferenciar entre primeiro o livre emprego de diakonos, que ele traduz por servo ou serva, e no segundo lugar Diácono respectivamente diácona como designação para fixar um ministério na comunidade. A partir destas definições, nas traduções da Bíblia em alemão, em geral, diakonos é traduzido por “servo/a” ou “diácono/a” respetivamente “diaconisa”. Beyer ainda vai listar uma serie de significado como por exemplo, o mensageiro, administrador, segundo piloto, padeiro, cozinheiro, vendedor de vinho, bem como estadista.

·         O uso neotestamentário do termo – As passagens em que aparece o termo diakonos no Novo Testamento podem ser subdivididas em três blocos: nas cartas autênticas de Paulo em Fp1.1; 1Co3.5: 2Co3.6; 6.4; 11.15, nas cartas deuteropaulinas em Cl 1.7; 1.23; 1.25; 4.7; Ef 3.7; 6.21; 1Tm 3.8; 3.12; 4.6, e nos evangelhos em Mc 9.35; 10.43; 22.26; Mt 20.26; 22.13; 23.11; Jo 2.5; 2.9; 12.26.

·         Diakonos nas cartas autênticas de Paulo – Em 1 Tessalonicenses 3.2 tem registrada a comprovação mais antiga do termo diakonos, onde ele cita o seu filho na fé Timóteo como “diakonos de Deus no evangelho de Cristo”. Na versão atual grega do Novo Testamento de Nestle-Aland, não aparece o termo diakonos, mas synergos (colaborador). Esta variante proposta por ele é plausível para o ponto de vista da crítica textual, contudo sua comprovação pelos códices é relativamente fraca. Outra passagem semelhante, em que aparece e é inquestionável sob o ponto de vista da crítica textual, muito cedo aceito pela tradição cristã de uma pessoa designada como diakonos, está registrada em Romanos 16. Onde Paulo descreve a irmã Febe como diakonos na igreja de Cencreia. Ele exercia o seu ministério em Cencreia subúrbio portuário a leste de Corinto; ela vai tornar-se importante mediadora, entre Paulo e os crentes de Roma. Em 1Corintíos 3.4, o próprio apostolo refere-se a ele mesmo como diakonoi por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um. Paulo afirma que tanto ele, quanto Apolo são diakonoi. Em 2 Coríntios 3.5 Paulo designa ele mesmo como diakonos. Em Romanos 15.8, Paulo refere-se à função mediadora de Cristo com sendo diakonos da circuncisão. Por fim em Romanos 13.3, Paulo refere-se à autoridade (poder político estabelecido por Deus) como diakonos, vingador, para castigar o que pratica o mal.

·         O uso do termo diakonos nas cartas deuteropaulinas – Estas cartas que levam o seu nome, porém foram escritas após a sua morte encontramos também este termo diakonos, semelhante ao do próprio Paulo No início da carta de Colossenses 1.7, encontra-se uma referência a “Epafras nosso amado conservo, e quanto a vós fiel diakonos de Cristo” No final da carta de Colossenses 4.7 é citado Tíquico, como irmão amado, e fiel diakonos, conservo no Senhor. Outras referências Efésios 3.7; 6.21; Colossenses 1.23.

·         Diakonos nos evangelhos – Nos evangelhos não temos referência a uma pessoa como ocorre nas cartas paulinas, porém é de modo geral uma abordagem que se refere a igreja de Cristo como um todo. O nosso ponto de partida será o evangelho de João que apresenta duas passagens em que aparece o termo diakonos.

·         O uso do termo no Evangelho de João – Este termo está relacionado com a passagem de João 2.5, da boda de Caná da Galileia, quando Maria falou aos diakonoi: Fazei o que ele vos disser. É possível entender o serviço que estes diakonoi exerciam entre os convidados, Maria, Jesus e o mestre-sala. Mesmos sendo servidores comuns estiveram um papel especial no primeiro milagre que o Senhor Jesus realizou. A outra passagem que ocorre o termo diakonos é em João 12.26: “Se alguém me diakone, siga-me...”.

·         Diakonos nos evangelhos sinóticos – Nos evangelhos sinóticos, encontramos em Mateus 22.11 um emprego do termo semelhante ao de João 2, quando os diakonoi são mencionados em conexão com uma festa de casamento. Mateus em registra nos versículos de 1-10 em paralelo com Lucas 14.15; então ordenou o rei aos diakonoi: amarrai-o de pés e mãos e lançai nas trevas... No livro de Marcos 9.33, vemos Jesus advertindo que “quem quer ser o primeiro será o último e diakonos de todos”. O termo diakonos passa ser combinado com a expressão “ser o último”. Nos evangelhos vemos Cristo sendo o maior exemplo para os apóstolos e para a igreja primitiva de como Ele exerceu o seu diakonein especial no momento da última ceia; sobre o diakonein de Jesus refere-se simultaneamente à sua morte de cruz.

2 – Observações quanto à função do diakonos nos Pais da Igreja – Nas fontes extracanônicas do cristianismo primitivo, pode-se observar que o termo diakonos, no final do primeiro e do segundo séculos, ao lado dos termos episkopos e presbyteros. Clemente em sua Carta entendeu que havia uma necessidade da instituição de diakonoi. Segundo a Didaquê – uma ordem da vida comunitária do séc. II, os diakonoi devem ser definidos, juntamente com os episkopoi. Nas Cartas de Inácio de Antioquia, encontramos seguidamente tríade episkopos, presbyteroi ou presbiteryon e diakonoi, sendo episkopos aparece no singular. Ao passo que tudo indica que nessa época o episcopado monárquico já estava plenamente estabelecido. Por exemplo Inácio escreve aos esmirnenses; “Sigam todos ao bispo, Como Jesus Cristo ao Pai; sigam ao presbitério como aos apóstolos. Acatem aos diáconos como a lei de Deus. Com base nisso se estabelece uma hierarquia, em que o episkopos e o presbyterium estão colocados à frente dos diakonoi. Na Carta de Inácio aos Filadélfios, ele menciona o nome de dois outros diakonoi, Filon diácono da Cilícia e Reos Agátopos que o acompanhava desde a Síria. Assim podemos concluir que a função mediadora nos contatos entre diferentes comunidades, exercida especialmente pelos diakonoi, pode ser comprovada a partir das cartas de Inácio. Eles são mensageiros de comunidades que acompanham Inácio, ao menos em parte, para Roma, em sua trajetória para o martírio, possibilitando assim o contato de Inácio com as suas respectivas comunidades. 

3 – Diaconia como relação externa da igreja – Após ter sido analisado na parte anterior o significado do substantivo diakonos, nesta unidade veremos o verbo diakonein. Iniciemos, pois com as considerações introdutórias, tendo como base uma fonte posterior.

·         Diakonein como dirigir-se a pessoas fora da comunidade – Em uma ordem de vida eclesiástica da Síria do séc. V consta: “Se o diácono atua numa cidade localizada junto ao mar, ele deve investigar cuidadosamente a praia para ver se as ondas do mar não trouxeram o corpo de um marinheiro naufragado. Ele deve vesti-lo e sepultá-lo. Na hospedagem para estrangeiros, ele deve verificar se lá não se encontram pessoas doentes, pobres ou mortas. Ele comunicará à comunidade para que ela se ocupe com o que é necessário para cada um”[1]. Na maioria das comunidades onde se realiza um trabalho diaconal não é à beira do mar, nem também o trabalho do diácono e voltado só para estrangeiros ou àqueles que já morreram. A ideia deste texto supracitado é mostrar como o trabalho diaconal deve ser desenvolvido com muito zelo e com cuidado. A irmã Febe é denominada por Paulo como diakonos da ekklesia de Cencreia. Se nos prendermos na função que lhe cabiam, ficam evidentes dois aspectos por um lado, ela detinha uma função diretiva (prostatis, dirigente) na comunidade de Cencreia, cidade portuária de Corinto, no sul da Grécia. Possivelmente ela cuidava dos estrangeiros quando chegavam e precisavam do necessário para a sua sobrevivência como por exemplo o apoio dado ao próprio apostolo Paulo. É bem provável que Febe desenvolvesse um trabalho parecido com o diácono do texto acima citado; reunião os estrangeiros famintos, sedentos, cansados, sujos, malvestidos, estranhos e, quem sabe, até doentes. Ela era a primeira pessoa da comunidade com o qual os estrangeiros entravam em contato. Certamente ela também desenvolvia serviços que, costumeiramente, são caracterizados como de caridades. Uma outra tarefa diaconal que ela executou foi se colocar no caminho e, ao o que tudo indica, levou a Carta aos Romanos de Corinto, onde Paulo estava no momento. Entendemos portando que o dakonein em ligação direta com a vida fora das “quatros paredes da igreja”.

·         Diaconia como relação externa da igreja atual – Neste tópico, passaremos à atualização das ideias até aqui desenvolvidas. Sob o pano de fundo das reflexões bíblicas sobre a relação entre a diaconia e igreja, podemos enfocar a relação atual entre a Diaconia como instituição e a igreja institucional na Alemanha. Quanto à ligação com a igreja institucional, deve-se levar em consideração, em primeiro lugar que existe uma compreensão estabelecida sobre diaconia, com a qual se entende as diversas formas de serviço diaconal como “manifestação do ser e do viver da igreja” (Constituição da Igreja Evangélica da Alemanha – EKD, sigla em alemão, Art.15). Por isso, no discurso interno tanto na igreja como na diaconia sempre é destacada em ambos os lados essa vinculação indissolúvel entre a igreja e diaconia. A diaconia compartilha, segundo sua concepção própria e da igreja, o conteúdo da, auto definição da igreja constituída. Essa vinculação indissolúvel entre a igreja e diaconia geralmente se fundamenta com referência à criação da moderna diaconia alemã por Wichern em 1848. Entretanto, sob o ponto de vista histórico, não dá para negar que a tentativa de Wichern de integrar a moderna diaconia na igreja paradoxalmente levou de fato a uma diferenciação crescente entre a diaconia e a igreja. Quanto mais a diaconia passou a ser profissional isto até aos dias de hoje, o trabalhou diaconal se desenvolveu, tanto mais fortes e claras se tornaram as tendências de auto distanciamento da igreja. As mudanças e as exigências econômicas, os profissionais de direção e de investimento de tempo em relação à diaconia profissional são tamanhas, que seria arriscado tentar estabelecer um vínculo intimo com a igreja constituída. Segundo o autor a devido as leis criadas na Alemanha e no bloco europeu, a tendência e que deve acabar está diaconia como havia sido estabelecida antes.

Conclusão: Este capitulo teve como finalidade precípua trazer luz sobre os termos substantivos diakonos, diakonia e verbo diakonein. Tendo feito isto o autor procurou trazer aos seus leitores de modo sintético um esclarecimento de como era a comunidade alemã cristã (e não cristã) no que diz respeito a diaconia exercida por eles. Dá uma introdução na diaconia nos evangelhos, nas cartas autênticas paulinas e deuteropaulinas. O autor encerra este capítulo trazendo luz ao texto de 2Coríntios 3, onde o texto trata da diaconia exercida por Moisés no Antigo Testamento de como ele relacionava-se com o povo; que como disse o autor que no início não é fácil a interpretação. O apóstolo Paulo usa o termo diakonia para referir-se ao seu ministério e o modo como ele transitava de um lado para o outro cumprindo a sua missão. Paulo que faz menção da diaconia Moisés, como ele estava exercendo diante do povo este tão importante chamado. Moisés ia levando as necessidades do povo para Deus e vinha consequentemente trazendo de Deus a mensagem para o povo; chamado este que o apostolo vai desempenhar também como poucos, orava pelos crentes e via as suas necessidades e também respondiam aqueles que precisam, aquela, que era o querer de Deus para a sua vida no particular e especialmente para a noiva do Cordeiro como um todo.

Por: Valmir Ribeiro dos Santos

Bibliografia
STARNITZKE, Dierk. Diaconia: Fundamentação bíblica – Concretizações éticas / Dierk Starnitzke. Tradução de Martin Volkmann – São Leopoldo – Sinodal, 2013.

Bíblia de Estudo Pentecostal Edição Revista e Corrigida CPAD 1995

Fim




[1] Citação extraída de FICHER, Balthasar. Dienst Und Spiritualität des Diakons. Das Zeugnis einer syrischen Kirchenordnung des 5. Jahrhunderts, in: PLÖGER, Johannes (ed.). Der Diakon. Wiederentdeckung und Erneuerung seines Dienstes. Freiburg, de Basel, Wien, 1980, p.263-273, no caso p.266